domingo, abril 08, 2012

Nietzsche, o Profeta: Poeta-Filósofo ou Filósofo-Poeta










Nietzsche, o Profeta: Poeta-Filósofo ou Filósofo-Poeta
“Existem homens que nascem póstumos”
“O encanto do conhecimento seria diminuto se, no caminho a que ele conduz, não houvesse tanto pudor a ser superado”
Se atualmente interesso-me profundamente por Filosofia, devo esse interesse a um célebre filósofo alemão chamado Friedrich Wilhelm Nietzsche, nascido em 15 de Outubro de 1844, num pequeno povoado próximo a cidade alemã de Lípsia, e falecido em 25 de Agosto de 1900, em Weimar. Após ler uma pequena biografia desse pensador, passei a interessar-me por filosofia não por contemplação do estudo, mas por espanto – pura consequência do filósofo que inicialmente ma expôs. Se me tivesse iniciado por essas veredas lendo qualquer outro filósofo, talvez não tivesse tanto deleite pela aventura como tenho por, inicialmente, ter lido Nietzsche. Essa é uma de suas peculiares características: parece que ele lida com Filosofia não tanto pela análise amistosa, mas principalmente pelo embate. E por fazê-lo dessa maneira, acaba por cair em certos precipícios da linguagem indesejados por qualquer filósofo que anseia pela correta interpretação. Quiçá, ao lidar assim com a linguagem, como se a estivesse mourejando, reflete sua própria análise da verdade: relacionada ao instinto e a afirmação criativa, sendo, no final das contas, uma relação de forças.
Eu elogio esse modo de transmitir a análise crítica. Contudo, embora concordando em certo sentido com sua crítica à civilização, o elogio como se estivesse elogiando um texto estético, quase poético, e não como se estivesse fazendo-o em relação a um texto totalmente filosófico. Na verdade, quando se trabalha com filosofia, não é recomendável escrever de forma extremamente poética, pois se corre o risco de ser mal interpretado, como frequentemente ocorreu com Nietzsche.
Por outro lado, enalteço Nietzsche porque, além de uma imensa capacidade de análise crítica, possuía uma tendência a profetizar. E, sendo um grande analista da civilização, soube profetizar sobre temas que atualmente filósofos e cientistas sociais debruçam-se a fim de compreender. E isso nos remete a uma profecia pessoal que se concretizou: prever que o futuro o alcunharia como filósofo extemporâneo, isto é, pertencente a outro tempo; é claro que ele, muito “modesto”, tomou a frente em relação ao título.
Porém, estava certo. Nietzsche pode ser considerado uma ponte entre o século XIX e o XX – uma ponte sobre o abismo do que se considerava civilização. O primeiro fato que o transpõe um século a frente é a imensa influência que teve sobre o pensamento de filósofos contemporâneos, tais como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Martin Heidegger e Max Horkheimer; e até na crítica negativa que obteve de filósofos como Bertrand Russell e Jürgen Habermas.
Contudo, o que realmente o lança sobre as águas tempestuosas do século XX é a análise da formação da civilização ocidental e a crítica ácida que faz a ela. É como se ele subisse num monte, acima da história, e começasse a escrever num pequeno caderno de notas tudo o que considerava como sendo antinatural.
Entretanto, ao fazer a crítica, quem sabe, também não queria expressar seu amor pela estética poética (talvez um reflexo de sua primeira formação, a de filólogo). Daí vem o pecado com a linguagem ao tentar transmitir suas concepções: escreve de modo extremamente abstrato, subjetivo e, consequentemente, pouco conciso. Nesse sentido, torna-se complicado, por exemplo, definir a unidade que compreende a sua crítica radical: alguns estudiosos dizem que é um estudo sobre a moral, outros uma crítica à razão, com o objetivo de construir uma nova psicologia particular. Então ressurge a questão do abismo entre o século XIX e o XX: se por um lado Nietzsche, ao estudar a formação da civilização, examina questões do século XX, por outro, ao tentar passar uma análise de modo conciso, mergulha em caprichos do século XIX. Por tal motivo, muitos estudiosos classificaram-no como sendo um poeta-filósofo ou, em última instância, um filósofo-poeta. Eu, particularmente, o classifico como o filósofo-campo de batalha, pois essa é a impressão que me transmitiu.
                                                                      
                                                                         São Paulo, 7 de Abril de 2012
Eliakim Ferreira Oliveira



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