quarta-feira, setembro 24, 2014

A GUERRA DO FOGO

Resenha do Filme – A Guerra do Fogo
Por Aline Ferreira de Oliveira 

A Guerra do Fogo se passa no Período Paleolítico da Pré- istória. Narrando a forma de vida e evolução de uma tribo aparentemente Neanderthalensis que não possuía a habilidade de dominar o fogo, se comunicava com gestos e grunhidos, dentre outras características a sexualidade era instintiva, fazia de sua morada as cavernas, sua sobrevivência em parte dependia de seus sentidos altamente aguçados, e suas defesas ficavam por conta de ferramentas toscas. Essa tribo possuía o fogo, porém não sabia como produzi-lo. Certo dia devido a um ataque de outra tribo eles perdem o fogo, o que se fazia essencial para a sobrevivência. A partir de então 3 indivíduos (Noah, Gaw e Amoukar) ficam responsáveis por trazer esse elemento indispensável de volta e enfrentam diversas situações difíceis como fome frio e animais selvagens famintos. No meio da jornada eles se deparam com uma tribo de hominídeos canibais, em busca do fogo que estes possuíam, mesmo diante do receio e medo eles demonstram astucia ao se organizarem para separam a tribo inimiga, e ao fim da batalha salvam uma mulher (Ika) que foi feita prisioneira. Essa mulher pertencia a uma outra tribo, diferente com uma aparência mais semelhante aos Homo Sapiens, possuía menos pelos corporais, estrutura óssea menor, demonstrava conhecimentos proto-medicinais, além de dominar melhor a linguagem, utilizam também o riso, e sua sexualidade era também afetiva.. Ika e Noah acabam criando um laço de afetividade e quando ela vai embora para sua tribo ele vai atrás dela e acaba caindo em uma armadilha e descobre que está na tribo à qual a Ika pertence. Ele é levado para o convívio dos demais membros, descobrindo novos costumes, adquirindo informações, essa tribo constrói suas cabanas, suas armas de defesas são mais elaboradas, utilizam de utensílios domésticos como cabaça e a cerâmica, tem conhecimento de artes pois utilizam pinturas para cobrir seus corpos, vida social mais complexa, possuindo uma certa denotação do sentido família, demonstram ritos e inclusive a técnica de produção do fogo. Gaw e Amoukar saem em busca de Noah e também caem na armadilha. Na nova tribo eles também aprendem e convivem com uma cultura diferente. 
Quando eles resolvem retornar com o fogo para sua tribo de origem os quatro se deparam com membros da mesma, esses demonstravam uma rivalidade desde o início, e atacam os quatro afins de lhes roubar o fogo e se tornar o novo líder, porém a convivência com a tribo de Ika lhe trouxe novos conhecimentos, Noah com armas mais modernas consegue vence-los e retornar com o fogo para sua tribo.
O mesmo não dura muito pois uma espécie de (guru) de sua tribo o apaga caindo no rio para o desespero da tribo, Noah pega os instrumentos necessários (vareta e um pedaço de pau) e tenta reproduzi-lo diante de sua tribo, Ika então o auxilia e produz diante de todos o tão precioso, fogo.

Ao fim do filme Ika esta gravida de Noah é lua cheia e nesse momento pode se perceber que pelas luas, talvez já houvesse a contagem de tempo, Noah passou a rir e também a se relacionar afetivamente, ressaltando ainda mais as mudanças que ele e sua tribo passarão a ter.

Aline Ferreira de Oliveira é atualmente estudante do primeiro semestre do curso de Licenciatura Plena em História das Faculdades Integradas de Ciências Humanas Saúde e Educação de Guarulhos. 
A Resenha foi elaborada para a disciplina de História Antiga - Oriente. 

terça-feira, julho 15, 2014

CINEMA, UMA PAIXÃO

Abaixo uma lista atualizada de filmes que marcaram  a minha vida.

  •  2001 - Uma Odisséia no Espaço - S. Kubrik
  • 1,99 - M. Masagão
  • 21 gramas - Alejandro González Iñárritu
  • 300 - Zack Snyder
  • 8 e meio - Federico Fellini
  • A Árvore da Vida - Terrence Malick
  • A Caverna dos Sonhos Esquecidos - Werner Herzog
  • A Cor Púrpura - Steven Spielberg
  • A Doce Vida - Federico Fellini
  • A Fraternidade é Vermelha - Krzysztof Kieslowski
  • A Guerra do Fogo - Jean-Jacques Annaud
  • A Igualdade é Branca - Krzysztof Kieslowski
  • A Insustentável Leveza do Ser - Philip Kaufman
  • A Liberdade é Azul - Krzysztof Kieslowski
  • A Missão - Roland Joffé
  • A Partida - Yojiro Takita 
  • A Queda - Oliver Hirschbiegel
  • A Rainha Margot- Patrice Chéreau
  • A Última Tentação de Cristo - Martin Scorsese
  • A Vida dos Outros - Florian Henckel von Donnersmarck
  • Adeus Lênin - Wolfgang Becker
  • Alexandria - Alejandro Amenábar
  • Amarcord - Federico Fellini
  • Amém - Costa-Gavras
  • Amistad - Steven Spielberg
  • Amnesia - Christopher Nolan
  • Amores Brutos -  Alejandro González Iñárritu
  • Apocalipse Now - Francis Coppola
  • Arquitetura da Destruição - Peter Cohen
  • As Invasões Bárbaras - Denys Arcand
  • As Vinhas da Ira - John Ford
  • Asas do desejo - Wim Wenders
  • Babel - Alejandro González Iñárritu
  • Bagda Café - Percy Adlon
  • Baraka - Ron Fricke
  • Batismo de Sangue - Helvécio Ratton
  • Beleza Roubada - Bernardo Bertolucci
  • Bety Blue    Jean Jacques Beineix
  • Bicho de Sete Cabeças - Laís Bodanzky
  • Blade Runner - Caçador de Andróides - Ridley Scott
  • Blow-up - Depois daquele beijo - Michelangelo Antonioni
  • Boa Noite, Boa Sorte - George Clooney
  • Camelos Também Choram - Byamba Suren / Luigi Falorni 
  • Capitães de Abril - Maria de Medeiros
  • Carne Trémula - Pedro Almodovar
  • Cidade dos Anjos - Brad Silberling
  • Cinema, Aspirinas e Urubus - Marcelo Gomes
  • Círculo de Fogo - Jean-Jacques Annaud
  • Citizen Kane - Orson Wells
  • Danton - O Processo da Revolução – Andrzej Wajda
  • De Olhos Bem Fechados - S. Kubrik
  • Deus é Brasileiro - Cacá Diegues
  • Dogville - Lars von Trier
  • Dr. Fantástico - Stanley Kubrick.
  • Edukators - Hans Weing Artner
  • Eles não usam black-tie - Leon Hirszman
  • Ensaio sobre a cegueira - Fernando Meireles
  • Estado de Sítio- Costa-Gavras
  • Fale com Ela - Pedro Almodovar
  • Fita Branca - Michael Haneke 
  • Foi apenas um sonho - Sam Mendes 
  • Freud Além da Alma - John Huston
  • Furyo - Em Nome da Honra - Nagisa Oshima
  • Gosto de Cereja -  Abbas Kiarostami
  • Hair - Milos Forman
  • Her - Ela - Spike Jonze 
  • Janela da Alma - João Jardim e Walter Carvalho
  • Jesus de Montreal - Denys Arcand
  • Jules e Jim - François Truffaut
  • Laranja Mecânica - Stanley Kubrick
  • Lavoura Arcaica - Luiz Fernando Carvalho
  • Linha de Passe - Walter Salles e Daniela Thomas
  • Manderlay - Lars von Trier
  • Matrix - Irmãos Wachowski
  • Medianeras  - Gustavo Taretto 
  • Mephisto - István Szabó
  • Metrópolis - Fritz Lang 
  • Missing - Costa-Gavras
  • Monty Python em A Vida de Brian - Terry Jones 
  • Monty Python em Busca do Cálice Sagrado - Terry Gilliam, Terry Jones
  • Monty Python em O Sentido da Vida - Terry Gilliam 
  • Morangos Silvestres - Ingmar Bergman
  • Morte em Veneza - Luchino Visconti
  • Narradores de Javé - Eliane Caffé
  • Nem Gravata nem Honra - Marcelo Masagão
  • Nós que aqui estamos por vós esperamos - M Masagão
  • O Ano em que meus pais saíram de férias - Cao Hamburger
  • O Céu que nos Protege -  Bernardo Bertolucci
  • O Declínio do Império Americano - Denys Arcand
  • O Encouraçado Potemkin - Sergei Ensenstein
  • O Enigma de Kaspar Hauser - Werner Herzog
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulain - Jean Pierre Jeunet
  • O Filho da Noiva - Juan José Campanella
  • O Informante - Michael Mann
  • O Jardineiro Fiel - Fernando Meireles
  • O Leitor - Stephen Daldry 
  • O Nome da Rosa - Jean-Jacques Annaud
  • O Pequeno Buda - Bernardo Bertolucci
  • O Quarto Poder- Costa-Gavras
  • O Sacrifício -  Andrei Tarkovski
  • O Sétimo Selo - Ingmar Bergman
  • O Signo da Cidade - Carlos Alberto Riccelli
  • O Triunfo da Vontade - Leni Riefenstahl
  • Persona - Ingmar Bergman
  • Promessas de um novo mundo - Justine Arlin, Carlos Bolado e B.Z.Goldberg.
  • Pulp Fiction - Quentin Tarantino
  • Quanto Vale ou é por Quilo - Sérgio Bianchi
  • Quase Dois Irmãos - Lúcia Murat
  • Queimada - Gillo Pontecorvo
  • Reds - Warrem Beatty
  • Retratos da Vida- Claude Lelouch
  • Seção Especial de Justiça - Costa-Gavras
  • Show de Truman - Peter Weir
  • Simplesmente Amor - Richard Curtis
  • Sob a Pele -  Jonathan Glazer 
  • Soldados de Salamina - David Trueba
  • Sonhos - Akira Kurosawa
  • Tão Longe, Tão Perto - Wim Wenders
  • Tempos Modernos - Charles Chaplin
  • Terra e Liberdade - Ken Loach
  • Terra Estrangeira - Walter Salles e Daniela Thomas
  • The Machine - Caradog W. James 
  • The Wall. Direção - Alan Parker
  • Transcendence - Wally Pfister 
  • Tudo sobre minha mãe - Pedro Almodovar
  • Veludo Azul - David Lynch
  • Vlado - 30 anos depois - João Batista de Andrade
  • Volver - Pedro Almodovar
  • Z - Costa-Gavras
  • Zelig - Woody Allen

terça-feira, janeiro 28, 2014

Artigo: 10 livros para conhecer o Brasil. Por Antonio Cândido

Esse artigo é fantástico. Um mapa para se compreender o Brasil em sua complexidade que vai muito além de "esquerda" ou "direita". Obviamente o genial Antonio Cândido não se deixou afetar pelo ímpeto de celebridade acadêmica e não citou o seu não menos relevante e imprescindível livro: Formação da literatura brasileira


Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.
Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.
Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.
São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma idéia básica.
Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de idéias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: "A formação e o sentido do Brasil".
Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, "americana".
Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.
Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião.
Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.
Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto vôo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.
Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo. Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material.
Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) e O movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina. Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).
Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império (1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República (1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II.
A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras.
Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em "dois Brasis", quase alheios um ao outro. As conseqüências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas.
Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os "coronéis". Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930).
O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política.
Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou "americana" da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.
No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc.
Fonte: http://www.enfpt.org.br/node/915

sábado, janeiro 11, 2014

SOFRO, LOGO COMPRO


Consumidores fazem fila para aproveitar liquidação em Piracicaba (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Mãe e filha encaram 20 horas de fila por celular e netbook em liquidação


“Clientes improvisaram camas e passaram a noite na rua por desconto. Para garantir descontos de até 70% em aparelhos eletrodomésticos e eletrônicos, consumidores encararam filas de até 21 horas em cidades do Sul de Minas durante o saldão de uma franquia de departamentos, que promoveu liquidações desde às 6h desta sexta-feira (10). Em Varginha (MG), a doméstica Ilma Carvalho Ferreira foi a primeira a chegar, por volta das 13h de quinta-feira (9). Ela correu para garantir uma máquina de lavar roupas. Às 4h da madrugada, mais de 300 pessoas já aguardavam para aproveitar os descontos e o calçadão da Avenida Wenceslau Braz ficou movimentado. Vencidos pelo cansaço, muitos improvisaram uma cama na calçada. O barman Talison Baroni não se intimidou. Puxou a coberta e dormiu à espera da abertura da loja. O descanso fez com que ele conseguisse comprar até 10 produtos por menos de R$ 1 mil. “Eu encontrei até itens de R$ 1”, disse. (Fonte: G1)

Esse fenômeno social demanda reflexões acerca da nossa época: a emergência da sociedade de consumo governada pela lógica do mercado na qual o desejo estético, via Indústria Cultural, é transformado em mercadoria.

Na linha argumentativa recomendo a leitura do livro "Consumido - Como o Mercado Corrompe Crianças, Infantiliza Adultos e Engole Cidadãos" (Record), de Benjamin Barber.

A condição do indivíduo no cenário da sociedade de consumo é ambígua: no consumo desenfreado de bens estéticos o sujeito é “maximizado”, não encontrando limites para si e transformando seu prazer na medida do relacionamento com o mundo (incluindo os demais sujeitos); por outro lado, o sujeito (consumidor) não vê que seus desejos são criados artificialmente; o consumo só se fortalece quando o sujeito acredita estar comandando as decisões, quando, na verdade, encontra-se sem nenhuma opção de escolha.

Outro caminho para compreender a condição contemporânea é a leitura da obra de Lipovetsky A Felicidade Paradoxal: Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. O filósofo provoca-nos a reflexão acerca dos infindáveis paradoxos de felicidade que permeiam a sociedade que, segundo ele, é matizada pelo hiper-consumo.

O livro divide-se em duas partes: 1) A sociedade do hiperconsumo e 2) Prazeres privados, felicidade ferida. Na primeira parte, o livro oferece, a partir de três balizas específicas, a evolução do capitalismo de consumo e seus desdobramentos na vida moral, afetiva e social dos indivíduos. A fase I, com início por volta de 1880 e término marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, é caracterizada pelo autor como a fase da distribuição. A partir do desenvolvimento dos mercados nacionais e a facilidade para escoação da produção das indústrias que evoluíam a cada dia.

A fase II, com início por volta dos anos 1950 que se estendeu até meados de 1980, é marcada principalmente pela lógica da quantidade, da produção em larga escala, o consumo de massa, com o que se chamou de “a sociedade da abundância”. A facilidade de acesso a bens e serviços, a praticidade dos eletrodomésticos e principalmente o “nascimento” do sentimento de competitividade entre as empresas, culminaram com a invenção do marketing que por sua vez, focou a atenção das corporações para as constantes necessidades e satisfação do cliente.

A fase III se caracteriza principalmente pela relação emocional do indivíduo com a mercadoria. Passado a euforia do consumo de massa característico das décadas anteriores, o consumo da terceira fase é norteado acima de tudo pela satisfação do “eu”, a busca pelo bem-estar.
Enquanto a fase II trouxe para o presente o momento de satisfação da compra, o status a partir de automóveis, eletrodomésticos, roupas, na fase III, a ostentação deixa de ser o principal motivo que induz ao consumo, dando início à era do bem-estar, no qual o acesso ao conforto, satisfação dos prazeres passa a ser a principal motivação para a felicidade.

O consumo emocional, diferente do marketing tradicional, passa a mostrar para o consumidor a importância da experiência e das memórias afetivas ligadas à marca. A partir de experiências sonoras, odores de lojas e ambientes diferenciados, estimulam os sentidos, envolvendo o consumidor que compra não mais pela qualidade do produto, mas pelo seu conceito e visão de vida. É o imperativo da imagem a partir do imaginário da marca.

Na sociedade do hiperconsumo, não se reprimem mais os “abusos” do consumo. Pelo contrário, neste momento, os indivíduos não compram mais tão motivados pela pressão social, mas motivados pela vontade, para a satisfação do próprio prazer. Vivemos num momento de hedonismo, onde o indivíduo necessita para a visibilidade social se apresentar como pleno, satisfeito e feliz.
“Sofro, logo compro”, representa a ideia central do que Lipovetsky analisa como sendo as compras o ópio da sociedade que, quanto mais isolada e frustrada com a solidão, tédio do trabalho, fragmentação da mobilidade social, segue buscando o consolo na felicidade imediata proporcionada pelas mercadorias. A carência suprida pela compra, pelas vivências extraordinárias proporcionadas pela indústria de experiências  e dos shoppings centers, apresentados como espaços de abstração e divertimento para todos a qualquer hora.

Concluindo o consumo como forma de fazer transparecer a condição de felicidade propiciada pelas novas experiências.

Na segunda parte do livro, Prazeres privados, felicidade ferida, são apresentadas reflexões sobre como questões referentes aos desejos e frustrações provocados a partir do impacto dos valores da publicidade e do individualismo são processados pelos indivíduos. Nesta fase, a sociedade caracterizada como livre defronta-se com mais paradoxos: é livre pelo direito conquistado pelas escolhas e diversidade de opções, e ao mesmo tempo está presa pelas condições impostas pelo mercado, pelas amarras da publicidade, valores culturais e pelas frustrações que não consegue superar.

O autor aponta então o uso das “pílulas da felicidade” como sendo a medicalização a saída encontrada para resolver as síndromes, pânicos e depressões decorrentes não apenas do não saber lidar com situações de fracasso, mas também como uma forma de fuga de enfrentamento de problemas reais e aceitação social.
Por fim, o autor observa que a sociedade do hiperconsumo, assim como as fases anteriores, também tem um “prazo de validade” corrente. E que sua exaustão se dará, principalmente, a partir, da inversão dos valores atuais. Onde não mais será exaltado o “super-homem”, perfeito e sem fraquezas; e o hedonismo já não constituirá o princípio estruturante da vida. Comprar, adquirir e renovar não mais serão atos ligados diretamente ao alcance da felicidade.

Com uma importante contribuição para a compreensão do sentido da felicidade e do bem-estar nas sociedades modernas, o autor traz em seu trabalho reflexões sobre o futuro da era do pós-hiperconsumo, a produção de sentidos na contemporaneidade, sobre a sociedade da hipervalorização do “eu”. Faz-se necessário o entendimento que, embora a felicidade ainda seja o principal motivador das conquistas individuais, nem sempre poderá estar aguardando como um “fabuloso destino”. Homens e mulheres precisam aprender a sustentar e trabalhar com suas frustrações sem a necessidade imediata do ópio da mercadoria efêmera.

No campo do consumo a suposta maximização se torna, paradoxalmente, o seu contrário: um aniquilamento do sujeito e de sua capacidade de julgar.

Outro aspecto a “enquadrar” num retrato da cultura contemporânea é que não basta apenas consumir. Como ressalta o sociólogo Zygmunt Bauman  em seu livro: Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Não basta consumir é preciso também ser “consumível”, transformando a própria aparência em commodity capaz de ser oferecida tanto para relacionamentos quanto para o mercado de trabalho. Um dos sinais dessa transformação da aparência em commodity está no boom dos sites de relacionamento, nos quais o produto que se coloca no mercado é o próprio indivíduo.

"Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. A “subjetividade” do “sujeito”, e a maior parte daquilo que essa subjetividade possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar, e permanecer, uma mercadoria vendável." (BAUMAN, 2008, p. 20).

Para ingressar de maneira competitiva no mercado é preciso sair da invisibilidade, destacando-se da massa. Não é de estranhar que o sonho alimentado por muitos é de conquistar fama a todo custo , como se isso fosse o verdadeiro sentido da vida e a única chance de conquistar a felicidade. Ser famoso significa simplesmente aparecer em milhares de revistas, milhões de telas, ser notado e comentado. Isso é crucial para ser finalmente desejado, cobiçado, como pretendem todas as mercadorias: “numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fada” (BAUMAN, 2008, p. 22).

Reduzir o ser humano a um consumidor ou a algo a ser consumível é, no mínimo, uma barbárie silenciosa. 

Em tempo. A chamada sociedade de consumo já foi objeto de reflexão crítica por parte de pesquisadores vinculados a diferentes tradições filosóficas. Entre eles aqui destacamos: LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal: Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Cia. Das Letras, 2007; BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008; BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70, 2005. BARBOSA, Livia. Sociedade de Consumo. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2004; . BARBOSA, Livia; CAMPBELL, Colin (Org.). Cultura, Consumo e Identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. FEATHERSTONE, Mike. Cultura do Consumo e Pós-Modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995; MOULIAN, Tomás. El Consumo me Consume. Santiago de Chile, ©LOM Ediciones, 1998. BARBER, Benjamin. Consumido - Como o Mercado Corrompe Crianças, Infantiliza Adultos e Engole Cidadãos" . Rio de Janeiro: Record, 2010. 

domingo, agosto 25, 2013

JOSÉ SARAMAGO : A humanidade não merece a vida

Folha de São Paulo: 30/11/2008

HUMANIDADE
A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.

MARXISMO HORMONAL
Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.

CRISE ATUAL
Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.

DEUS E BÍBLIA
Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...

RELAÇÃO COM PORTUGAL
Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro ["O Evangelho Segundo Jesus Cristo"] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.

ACORDO ORTOGRÁFICO
Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução.

LITERATURA BRASILEIRA
Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.

LEITOR
O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.

Em nome de todos os brasileiros, obrigada por existir", disse alto, ao final da sabatina, uma integrante da platéia, enquanto Saramago terminava de falar.

segunda-feira, novembro 05, 2012

O Futebol e o Brasil


"O futebol é um rito através do qual o País se enxerga."
(José Miguel Wisnik).

Com essa frase o músico, ensaísta e professor de literatura José Miguel Wisnik tenta decifrar em seu livro "Veneno Remédio":   a medida da importância que o futebol tem para nós.

Somente em anos recentes o Brasil começou gerar uma produção intelectual consistente sobre o futebol, o que tem contribuído para que o esporte seja pensando para além dos temas propostos pelas mesas-rondas transmitidas pelas emissoras de televisão. Na época em que eu estudava na década de 1980,  falar de futebol era uma heresia.  Com raras exceções, a academia considerava o tema uma alienação. Lembro-me de um professor da faculdade que também atuava no ensino básico que gostava de conversar sobre futebol e música pop. Um dia ele convidou os alunos para acompanha-lo à uma partida entre Corinthians e Ponte Preta no Pacaembu.  Foi ótimo!
Tem-se escrito cada vez mais sobre futebol no Brasil. Há o livro clássico do Mario Filho O Negro no Futebol Brasileiro. Há Nelson Rodrigues, o clássico absoluto. Há o livro do Roberto da Matta: A bola corre mais que os homens. Há  também o livro Footballmania  de Leonardo Pereira, o  livro de Bernardo de Hollanda: O descobrimento do futebol. O livro de João Máximo sobre João Saldanha, o de Ruy Castro sobre Garrincha, o de Alex Bellos sobre o Brasil e o futebol, o de Jorge Caldeira sobre Ronaldo. O texto de Anatol Rosenfeld escrito em 1956 para uma revista alemã, que se encontra em Negro, macumba e futebol. E o livro do historiador Hilário Franco A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade, 
Até o falecido professor Hobsbawm já manifestou-se acerca do futebol:

O futebol hoje sintetiza muito bem a dialética entre identidade nacional, globalização e xenofobia dos dias de hoje. Os clubes viraram entidades transnacionais, empreendimentos globais. Mas, paradoxalmente, o que faz do futebol popular continua sendo, antes de tudo, a fidelidade local de um grupo de torcedores para com uma equipe. E, ainda, o que faz dos campeonatos mundiais algo interessante é o fato de que podemos ver países em competição. Por isso acho que o futebol carrega o conflito essencial da globalização.Os clubes querem ter os jogadores em tempo integral, mas também precisam que eles joguem por suas seleções para legitimá-los como heróis nacionais. Enquanto isso, clubes de países da África ou da América Latina vão virando centros de recrutamento e perdendo o encanto local de seus encontros, como acontece com os times do Brasil e da Argentina. É um paradoxo interessante para pensar sobre a globalização.
Folha de São Paulo - Terça-Feira 09 de Outubro de 2007

Da parte que me cabe neste latifúndio, penso que o nacionalismo brasileiro nem sempre calçou chuteiras, isto é, nem sempre foi representado pelo futebol. Como sabemos, no século XIX o nacionalismo  brasileiro teve sua expressão representada pela literatura romântica. José de Alencar em  obra Iracema, faz uma alegoria para a formação da nação brasileira. A índia Iracema representa a natureza virgem e a inocência, enquanto o colonizador Martim representa a cultura europeia. Da junção dos dois surgirá a nação brasileira, representada alegoricamente,  pelo filho do casal, Moacir.
Como sabemos, o futebol foi introduzido por Charles Miller no século XIX (a primeira bola de futebol do Brasil foi trazida em 1894), um jovem brasileiro que, após viagem pela Inglaterra, trouxe consigo duas bolas de futebol e passou a tentar converter a comunidade de britânicos da cidade de São Paulo de jogadores de críquete para futebolistas, criando um clube de futebol no Brasil. Nos primeiros tempos, a aristocracia dominava ligas de futebol. Só depois de muito tempo o esporte começou a ganhar as várzeas. Inicialmente, apenas brancos podiam jogar futebol no Brasil como profissionais, dado o fato da maioria dos primeiros clubes terem sido fundados por estrangeiros. Na década de 20, os negros começaram a ser aceitos em outros clubes, e o Vasco foi o primeiro dos clubes grandes a vencer títulos com uma equipe repleta de jogadores negros e pobres.
Durante os governos de Vargas foi feito um grande esforço para alavancar o futebol no país (A construção do Maracanã e a Copa do Mundo do Brasil 1950). A vitória no Mundial de 1958, com um time comandado pelos negros Didi e Pelé, pelo mulato Garrincha e pelo capitão paulista Bellini, ratificou o futebol como principal elemento da identificação nacional, já que reúne pessoas de todas as cores, condições sociais, credos e diferentes regiões do país.
Tanto em 1958 como em 1970 o futebol teve o uso de grande repercussão popular por governantes para promover a imagem positiva de seu governo. No caso, os então presidentes do Brasil, Juscelino Kubitschek em 1958 e Emilio Garrastazu Médici em 1970, exploram o êxito do Brasil nas respectivas Copas do Mundo de futebol.

Temos que concordar com os autores citados anteriormente, que o futebol é a maneira como representamos o Brasil para nós. Como diria Durkheim é o princípio da nossa consciência coletiva.  Por isso, todo mundo fica amofinado se o Brasil perde a Copa do Mundo.
O futebol caracteriza-se como um dos principais elementos da cultura de massa dos brasileiros e, por isso, é explorado politicamente, seja por dirigentes de clubes e astros do esporte para ascederem a cargos eletivos ou utilizado pelas autoridades políticas com finalidades eleitoreiras, além da exploração econômica pelos mais variados segmentos. 
Outra interpretação aponta o  futebol como arena onde as relações raciais brasileiras. se debatem. O território do gramado converte-se no microcosmo do território brasileiro. No campo, as relações sociais adquirem ao mesmo tempo sua transparência e sua opacidade.
O futebol é a ginga, é a malandragem, são as capacidades adaptativas ligadas à mestiçagem que fazem com que o futebol ganhe essas propriedades tão únicas tão bem incorporadas pelo nosso poeta mágico Chico Buarque:

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da ideia quando ginga

http://letras.terra.com.br/chico-buarque/681103/




Bem meus caros, penso que essa discussão é oceânica e não cabe no espaço exíguo desse blog. Nem tenho eu a pretensão de esgota-lá. O Corinthians é campeão da Libertadores.. E isso encerra, por enquanto, o assunto.



domingo, maio 20, 2012

MAQUIAVEL É MAQUIAVÉLICO?



Considere a hipótese: você votaria em um político maquiavélico?
Imagine o leitor que alguém o considerasse maquiavélico. Não surpreenderia que o epônimo fosse visto como uma acusação. A sua reação provavelmente seria recusar o título. Afinal, você não é dado a agir com má-fé nem sem moral.
A má fama do pensador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) é bastante antiga. Data de meados do século 16. Ao longo do tempo, ele foi inúmeras vezes considerado um autor maldito, a ponto de seu nome ter dado origem a um apelido para o diabo em inglês: "old Nick".
Entretanto o próprio Maquiavel não poderia ser considerado pelo epônimo  maquiavélico. A interpretação negativase deve a uma "leitura parcial e redutora da filosofia de Maquiavel" que leva em consideração seu livro mais famoso, "O Príncipe".
No livro, Maquiavel  analisa as ações não mais em função de uma hierarquia de valores dada a priori, mas sim em vista das consequências, dos resultados da ação política. Trata-se de uma nova leitura centrada nos critérios da avaliação do que é útil à comunidade: o critério para definir o que é moral é o bem da comunidade, e nesse sentido às vezes é legítimo o recurso ao mal (o emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a prática da espionagem, o emprego da violência). Estamos diante de uma moral imanente, mundana, que vive do relacionamento entre os homens. E se há a possibilidade de os homens serem corruptos, constitui dever do Príncipe manter-se no poder a qualquer custo.
A novidade do pensamento de Maquiavel,  justamente a que causou maior escândalo e críticas, está na reavaliação das relações entre ética e política. Por um lado, Maquiavel apresenta uma moral laica, secular, de base naturalista, diferente da moral cristã; por outro, estabelece a autonomia da política, negando a anterioridade das questões morais na avaliação da ação política.
Maquiavel distingue entre o bom governante, que é forçado pela necessidade a usar da violência visando o bem coletivo, e o tirano, que age por capricho ou interesse próprio.
O pensamento de Maquiavel nos leva à reflexão sobre a situação dramática e ambivalente do homem de ação: se o indivíduo aplicar de forma inflexível o código moral que rege sua vida pessoal à vida política, sem dúvida colherá fracassos sucessivos, tomando-se um político incompetente.
Para saber mais acerca desse importante e polêmico pensador e sua obra clique AQUI

assista ao vídeo abaixo:


domingo, abril 22, 2012

REVOLUÇÃO INDÚSTRIAL


 
Revolução Industrial foi um rápido e profundo conjunto de transformações técnicas e econômicas por que passou a Europa de meados do século XVIII, com desdobramentos nos campos social e cultural Revolução Industrial• O Historiador Eric J. Hobsbawm considera que o período de 1789 à 1848, foi assinalado por uma "Dupla Revolução", a Francesa e a Industrial Inglesa pois ocasionaram transformações econômicas, sociais e políticas que superaram os resquícios do feudalismo e marcaram o triunfo do capitalismo liberal burguês.

Link para o ppt


segunda-feira, abril 16, 2012

REVOLUÇÃO FRANCESA


A queda da Bastilha


           Um rei de nome Luis, foi guilhotinado  na França  em janeiro de  1793. Quanto poderia valer a cabeça de um rei? Os franceses , ao arrancar a cabeça se Sua Majestade, transformavam-na em um símbolo de sua imaginária libertação, aumentando seu valor.
         A Revolução Francesa, ocorrida entre 1789-99 se transformou num dos temas mais importantes da história. Há quem afirme que o papel que foi usado para escrever sobre ela, se incinerado, daria uma fogueira que poderia talvez ser vista da Lua.
         A Revolução Francesa é considerada o  ‘modelo clássico de revolução democrático-burguesa’. Modelo pois pode e deve servir de exemplo para outros movimentos revolucionários. Clássico porque resistiu a deterioração  que normalmente atinge os acontecimentos históricos, mantendo e mesmo elevando seu valor com o passar dos anos. Democrático porque suas palavras de ordem  (liberdade, igualdade, fraternidade) tencionavam assegurar princípios de respeito aos direitos de cada um, como bem supremo formador da nação, finalmente burguesa, pois apesar de nela terem coexistido três revoluções sociais distintas: uma burguesa, uma camponesa e uma popular urbana, a dos chamados sans-culottes, o poder político que se encontrava nas mãos da nobreza, passou para a burguesia. Isso significa que os resultados  políticos das sucessivas convulsões sociais geradas nos quadros da crise do Estado Monárquico  francês foram, Ao final, capitaneados pela burguesia, que pôde assim dar início à viabilização de seus interesses políticos e econômicos.
         A Revolução Francesa marca o inicio da Idade Contemporânea na medida em que liquidou o Antigo Regime abrindo caminho para o predomínio da burguesia e simultaneamente permitindo a afirmação do Capitalismo como modo de produção  dominante. Para obter o ppt clique aqui