domingo, outubro 30, 2011

O Papel da Religião na sociedade: “Persépolis”


“A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração do mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.”
(Karl Marx)

“A melhor religião é a mais tolerante.”
(Émile de Girardin – 1802-1881 -, jornalista, político e publicitário francês)

A minha Religião é o Novo. 
Este dia, por exemplo; o pôr do Sol, 
estas invenções habituais: o Mar. 
Ainda: 
os cisnes a Ralhar com a água. A Rapariga mais bonita que 
ontem. 
Deus como habitante único. 
Todos somos estrangeiros a esta Região, cujo único habitante 
verdadeiro é Deus (este bem podia ser o Rótulo do nosso 
Frasco). 
Dele também se podia dizer, como homenagem: 
Hóspede discreto. 
Ou mais pomposamente: 
O Enorme Hóspede discreto. 
Ou dizer ainda, para demorar Deus mais tempo nos lábios ou 
neste caso no papel, na escrita, dizer ainda, no seu epitáfio que 
nunca chega, que nunca será útil, dizer dele: 
em todo o lado é hóspede, 
e em todo o lado é Discreto.

Gonçalo M. Tavares (nasc. 1970), escritor pós-modernista português, in "Investigações. Novalis"

“As revoluções fracassam porque, uma vez que triunfam, os homens deixam tudo nas mãos do novo governo 'revolucionário'... em lugar de fazê-lo eles mesmos”.

(Ricardo Flores Magón – 1874-1922 - , um dos mais notáveis anarquistas mexicanos)

          

Eu quero iniciar a minha análise sobre o papel da religião na sociedade, com enfoque no filme “Persépolis”, partindo do pressuposto que a religião é um sistema, construído com regras, que são geralmente chamadas de dogmas. Segundo Sigmund Freud, sendo ela um remédio ilusório para o desamparo, as atitudes humanas que tem raízes religiosas se dão quando as regras entram no âmbito psíquico, o que seria fundamental para o que os religiosos chamam de “salvação” ou “purificação”; seria esse o objetivo curativo desse “remédio”. Quiçá, a parcela imensa de seres humanos que seguem e aderem a dogmas religiosos e os usam como uma foice para andar por esse imenso canavial chamado existência representam a necessidade do homem, enquanto ser racional, de controlar seus instintos e seus impulsos, estabelecendo para si um código moral com “raízes espirituais”. A pintura “A Criação de Adão”, feita na abóbada da Capela Sistina, ilustra bem essa ideia da relação do homem com as respostas que estão “além do conhecimento possível” e de sua necessidade de encontrar um sentido espiritual e divino para si e para sua existência; quando se quer encontrar um sentido para ser e estar não há apenas a religião como instrumento de compreensão e entendimento – sabemos disso; porém, por algum motivo mais singelo e talvez mais “purificador” para a mente, os seres humanos passaram a utilizá-la desde os tempos mais remotos para esse fim. É realmente uma procura por uma suposta re-ligação (como o temo mesmo sugere) com uma suposta força criadora que carrega a essência para a existência, podendo esta ser antropomórfica, zoomórfica ou apenas uma força imaterial.
            Essa introdução serviu apenas para nos mostrar como a religião se dá no âmbito psíquico. A questão é: ela pode se dar positivamente e negativamente; quando é o segundo caso, quais são as consequências disso para o homem e, subsequentemente, para a sociedade que o representa no campo coletivo. Dessa proposição chegamos às análises do filme “Persépolis”. Um grupo de islâmicos radicais, os xiitas, consegue chegar ao poder na então Pérsia, representando uma esperança para um retorno da liberdade num país que, pelo governo de um ditador “alcunhado” de xá, já há muito desconhecia. Comemora-se a derrocada do xá e a abertura para a liberdade; todavia, os que entram no poder monopolizam fundamentalmente sua moral religiosa, aplicando-a ao sistema político e, consequentemente, coletivizando-a. O resultado são pessoas que já não podem mais utilizar sua faculdade de escolha própria ante atitudes corriqueiras e habituais, mas importantíssimas para o exercício da liberdade, tais como o uso de roupas, poder ir a festas e até realizarem atividades lúdicas; e, pior ainda, não há mais o direito de criticar o governo e nem ter contato com uma cultura alheia, outrora próxima, como a ocidental. E aí surge novamente, como no tema do relato: quais são as consequências negativas que a religião pode ter sobre a sociedade?

                                               Eliakim Ferreira Oliveira, São Paulo, 24/10/11.

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