domingo, fevereiro 27, 2011

PROFESSOR GANHA 40% MENOS QUE MÉDIA DO TRABALHADOR BRASILEIRO COM MESMA ESCOLARIDADE

Recentemente um colega contou-me que na escola onde atua como diretor um jovem recém-formado professor de Biologia muito motivado em suas aulas procurou-o para comunicar o seu desligamento do quadro de professores daquela escola pública.
Motivo: O rapaz é noivo e pretende casar-se. Assim, precisa de recur$os. Atuando como professor com carga completa de 40 horas (o que exige literalmente que dedicação exclusiva) ele recebe líquido pouco menos que R$ 1.500,00. Comunicou ao diretor que encontrou um trabalho formal como motoboy (registrado, com seguro de vida, seguro saúde, vale-alimentação, cesta-básica) e mais um salário líquido de R$ 3.000,00.
Meu colega diretor poderia argumentar que o jovem professor  como motoboy corre um risco maior. Mas, ele contra-argumentou dizendo que na escola também corre riscos que vão desde danificar a sua voz até  ser ameaçado por traficantes ou pelo conselho tutelar se caso tiver algum atrito com alunos (fato muito comum). Ele já assistiu muitos colegas deixarem a sala de aula por conta de vários incidentes e ainda por cima são obrigados a responder um processo administratuvo....

É assim por isso que educação não anda mesmo!!! Ou é o sucatamento radical da escola pública ou a mercantilização ao extremo da escola privada. A alternativa é ser motoboy!! Tem mais segurança, mais dinheiro e mais glamour pois ninguém trata mal um motoboy quando entrega a encomenda. Já o professor é maltratado quando tenta civilizar os filhos das famílias que nada sabem acerca de respeito, ética, e solidariedade.



O salário médio de um professor da educação básica é 40% menor que a remuneração, também média, de um trabalhador com o mesmo nível de escolaridade. O cálculo foi feito pela economista Fabiana de Felicio com base nos microdados da última edição da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Veja comparação entre salários de professores e de outras ocupações

Enquanto um assalariado, que tem escolaridade superior ao ensino médio, recebe mensalmente R$ 2.799 por 40 horas semanais de serviço, um docente com a mesma quantidade de anos de estudo tem remuneração de R$ 1.745 por mês. O salário médio mais baixo é do Estado de Pernambuco -- R$ 1.219 -- e o mais alto é do Distrito Federal -- R$ 3.472.

Professor ganha 40% menos que trabalhador com mesma escolaridade.

Fabiana faz questão de frisar: "esses são valores médios, o que significa que tem uma parcela da amostra que ganha menos que isso". Segundo ela, a ponderação é importante para não se tirar conclusões precipitadas. Outro ponto para o qual ela pede atenção é sobre a jornada padronizada para a comparação - nem todos os professores trabalham 40 horas por semana. Em geral, a carga horária é menor.

Meta do PNE

A valorização do professor -- considerada essencial para o avanço da qualidade da educação -- é um dos eixos centrais do PNE (Plano Nacional da Educação) que deve ser encaminhado ao Congresso amanhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quatro das 20 metas trazidas pelo documento são destinadas a esse fim. O PNE traça os objetivos do país na área da educação para períodos de dez anos.

O aumento do salário do professor "é o mínimo" que deve ser feito para a valorização da carreira, na opinião de Fabiana de Felicio. "Se [isso] não [acontecer], [a profissão] vai continuar atraindo quem se contenta em ganhar um pouco mais que quem tem ensino médio", afirma a economista. O incremento na renda só é significativo quando o salário do docente é comparado com essa faixa de assalariados -- enquanto um trabalhador de nível médio ganha R$ 1.009, um professor com escolaridade equivalente recebe R$ 1.624.

Na média, pelo menos

Para a pesquisadora, o salário do professor tem que alcançar "pelo menos" a média da remuneração dos outros profissionais com superior incompleto ou completo. "O salário é o sinal para atrair novos [e melhores] professores", diz Fabiana.

O tempo de resposta desse investimento na carreira docente, no entanto, é "longo". "Se aumentar hoje, não vamos ter resposta no próximo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)",  explica a economista. Segundo ela, essa pode ser uma das justificativas para que esse tipo de medida -- que é consenso para melhoria da educação -- não tenha sido tomada ainda. Afinal, o "resultado" leva de dez a 15 anos para aparecer enquanto o mandato de um governante é de quatro anos.

Além da falta de retorno eleitoral, o investimento em educação é "caro" - ao elevar o salário dos professores, Estados e municípios têm que aumentar os gastos também com as aposentadorias desses profissionais.

Redução de jornada



Para a presidente da Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual de São Paulo filiado à CUT, Maria Izabel Noronha, a questão da carreira também começa com elevação do salário. Mas vai além disso. Na opinião dela, é preciso melhorar as condições de trabalho dos docentes.

"A questão central diz respeito à organização do espaço e do currículo escolares", diz Maria Izabel. "Uma jornada ideal teria 40 horas semanais, divididas em 20 horas na sala de aula, dez horas para preparo das aulas e as outras dez horas para trabalho pedagógico."

Ela admite, no entanto, que aumentar o salário e reduzir a jornada poderia ser uma política de difícil execução. "Se implantada em São Paulo, a Lei do Piso poderia ser um bom começo", afirma a dirigente sindical. Se fosse necessário escolher entre aumento de salário e redução de jornada, Maria Izabel diz que "não tem primeiro [a ser feito], tem que ser tudo junto".

Para ela, que também é conselheira do CNE (Conselho Nacional de Educação), o PNE traz "variáveis importantes para estruturar a qualidade", como a adoçãoCAQi (Custo Aluno Qualidade Inicial), a valorização docente e a meta deinvestimento de 7% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação.

Pela valorização do professor. Valorização profissional começa com valorização salarial.

Um comentário:

Anônimo disse...

Educação é algo que me dá medo, só de pensar em enfrentar os milhares de problemas que temos atualmente, já me assusto.

Mas cabe a mim e todos da minha geração assumir essa responsabilidade, e tentar mudar isso de alguma forma. Como? Talvez nem você saiba a resposta, não é professor?

Mas não custa tentar, afinal, certa vez um homem chamado Thomas Alva Edison tentou, tentou, tentou ... Bum! Mais de 1.300 invenções patenteadas.

PORÉM, acredito que seja inviável tentar sem antes pensar, como já foi feito em alguns momentos na história deste país. Tentar requer um investimento, e infelizmente, quando se trata de investimentos desnecessários, nós somos profissionais, pelo menos é a minha opinião até então.

Se alguém conseguir me convencer do contrário, peço de coração que tente, pois não gostaria mais de ter essa visão pessimista do Brasil.