terça-feira, setembro 23, 2008

O braço visível do Estado

No século XVIII Adam Simth em sua obra A riqueza das Nações criou uma fábula: o mercado não precisa de regras. Qualquer forma de intervenção ou regulação no mercado é nociva e promove o atraso no desenvolvimento econômico. Adam Smith acreditava que a divisão do trabalho era o elemento essencial para o crescimento da produção e do mercado, e sua aplicação eficaz dependia da livre concorrência, que forçaria o empresário a ampliar a produção, buscando novas técnicas, aumentando a qualidade do produto e baixando ao máximo os custos de produção. O natural decréscimo do preço final favoreceria a lei da oferta e da procura, determinando o sucesso econômico. Ainda defendia a não-intervenção do Estado nos assuntos econômicos, o qual deveria apenas harmonizar interesses individuais com vistas ao bem-estar coletivo dada a existência de leis naturais e imutáveis que regem a economia. A essas leis Simith criou uma metáfora: a mão invisível.
A partir de então todos os defensores do Capitalismo e das estratégias liberais passaram a repetir esse axioma tentanto provar que a sucesso econômico depende de uma regra: não ter regras. O individualismo e a conpetição máxima são a alvanca do progresso.
Em 1929 Wall Street, o centro dinâmico do mundo financeiro capitalista foi atingido por uma das mais graves crises. A crise explodiu em 24 de outubro, quando milhões de dólares em ações não encontraram compradores na Bolsa de Nova Iorque. Os investidores de Wall Street, preocupados com o desempenho das empresas de quem haviam comprado ações, tentavam desesperadamente livrar-se dos papéis, originando uma verdadeira avalanche de oferta de ações, que derrubaram os preços arruinando a todos. De uma hora para outra, prósperos empresários dos setores industrial e bancário faliram, milhões de trabalhadores perderam seus empregos e a miséria disseminou-se pelo território norte-americano.
A partir dos Estados Unidos, a crise econômica alastrou-se por todo o mundo capitalista. Sua difusão foi favorecida pelos seguintes elementos: primeiro, a redução das importações norte-americanas, que afetou duramente os países que dependiam de seu mercado; segundo, o repatriamento de capitais norte-americanos investidos em outros países. O "crack" da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, provocou falências de centenas de indústrias, de bancos, de companhias de comércio e de transportes e um desemprego em massa, que chegou a alcançar cerca de 15 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos.
O presidente norte-americano eleito em 1932, Franklin Delano Roosevelt, adotou uma política econômica marcada por forte intervencionismo estatal nos assuntos econômicos. Tal política, inspirada nas idéias do economista John Maynard Keynes ficou conhecida como New Deal, cujo principal objetivo era aumentar o poder aquisitivo da população, aquecendo a economia. Para isso era necessário ampliar os níveis de emprego e o Estado norte-americano encarregou-se dessa tarefa, adotando uma política de obras públicas que recrutava trabalhadores entre as camadas mais pobres da sociedade. O New Deal salvou o capitalismo da crise.
O historiador Eric J. Hobsbawm em seu livro A Era dos Extremos postula que uma das ironias deste estranho século XX é que o resultado mais duradouro da Revolução de Outubro de 1917, cujo objetivo era a derrubada global do capitalismo, foi salvar seu antagonista, tanto na guerra quanto na paz. O socialismo salvou o capitalismo graças à vitória militar na 2ª Guerra Mundial e ao planejamento econômico para substituir a economia de mercado.
Na década de 1990 após a derrocada do regime socialista no leste europeu e do fim da URSS o liberalismo foi reciclado e denominado de neoliberalismo.
Para o neoliberalismo o sucesso depende da capacidade de liberalização, desregulamentação, privatização, absoluta liberdade de movimento, valorização do capital privado e internacionalização. Trata-se da formulação liberal do mercado como esfera de realização plena e livre das capacidades e potencialidades individuais ou do mercado como “mão invisível” que regula a si mesmo e regula igualmente as relações sociais.
A receita da desregulamentação foi proposta pela famosa Esacola de Chicago chefiada por Milton Friedman e aplicadas pela era Reagam, Thatcher. Os 'chicago boys' invadiram a América Latina
e por meio do Consenso de Washington impuseram as regras que consagram a nova aliança entre o mercado e a humanidade.: liberar mercados nacionais, e privatizar tudo.
Semana passada um novo terremoto abalou Wall Street. A catástrofe anunciada desde o início do ano se manifestou pela quebra do branco Lehman Brothers. Quem vai salvar o mercado de uma crise? O governo estadunidense anunciou que irá injetar bilhões de dólares para salva o sistema finaceiro e impedir a crise. Onde está a mão invisível? Parace que novamente é o Estado que sai em socorro das grandes corporações. Afinal para que serve o braço visível do Estado senão para salvar a mão invisível do mercado! Leia o artigo Go home, Chicago boys! no Estado de São Paulo: clique aqui

Um comentário:

ana flávia disse...

Muito bom o texto, professor.

A Bruna ficaria orgulhosa.