sexta-feira, outubro 15, 2010

Aborto: contra ou a favor?



Nas últimas semanas emergiu o antigo debate acerca da legalização ou não do aborto. O tema é polêmico, pois como toda questão que evolve a vida humana , está permeado pela complexidade. Envolve paixões políticas, crenças religiosas e valores morais que  por vezes se misturam e impedem uma visão lúcida acerca da questão. O que tenho assitido são manifestações histéricas disseminadas pela rede. E, quando a histeria predomina o território da civilização se esgarça e em seu lugar emerge a barbárie. Não preciso citar o nazismo como exemplo.

Até agora, só li uma manifestação lúcida acerca da questão  que compartilho com vocês: Trata-se do pensamento do psicanalista Contardo Caligaris que considera:

Uma eleição é o pior momento para debater qualquer questão que seja. Numa eleição, as pessoas precisam ser a favor ou contra. Ora, as pretensas discussões entre "a favor" e "contra" me inspiram o mesmo mal-estar que sinto quando assisto a uma cena de violência. Faz sentido porque, nessas discussões, ninguém argumenta, cada um apenas reafirma abstratamente sua identificação: em "eu sou a favor" e "eu sou contra", o que mais importa é reforçar o "eu". Com isso, inevitavelmente essas discussões menosprezam, atropelam e violentam a vida concreta de todos. Depois desse preâmbulo, talvez eu consiga, numa coluna futura, escrever sobre a questão do aborto. Enquanto isso, eis uma leitura que recomendo a todos os que preferem pensar a gritar: "O Drama do Aborto: Em Busca de um Consenso", de dois médicos, A. Faúndes e J. Barzelatto (Komedi). Sobre o tema, talvez esse seja o escrito mais honesto, menos tendencioso e mais generoso que já li. 

Minha opinião acerca da temática é que esse não é um tema que possa ser submetido a princípios religiosos. As religiões podem propor determinado comportamento aos seus fiéis. Podem também propor à sociedade a discussão de suas ideias morais. Porém, em um Estado que não é teocrático, jamais esses princípios e valores podem ser impostos a toda a sociedade. O Estado não poderia, sob pena de violar a Constituição, submeter-se às religiões. Isso é a negação da democracia, das liberdades civis. Seria uma ameaça ao princípio de separação entre o Estado e a Igreja. . Pautar-se por princípios religiosos é infringir  a Constituição. Isso não é ser contra a religião. Ao contrário. O Estado laico é que garante a liberdade religiosa, pois garante a todos o direito de professar a sua fé e, inclusive, o de não professar nenhuma.
Concordo com Contardo Caligaris. Eleição não é o melhor momento para dabeter esse tema., pois as paixões e os interesses estão à flor da pele. Ao meu ver a questão está sendo instrumentalizada e isso não é racional. E tudo que não é racional, é barbárie. A não é no ventre barbárie que se defende o direito à vida e o direito à decidir. Na barbárie só existe ódio, intolerância e violência. 

MATÉRIA DA REVISTA VEJA: QUANDO COMEÇA A VIDA?




Um comentário:

Unknown disse...

Existe ponderações que estrapolam o conceito da religião e da legislação. Realmente um sim ou um não, empobrece o debate, Porém, além do ponto de vista médico e de orgãos ligados ao direito de reprodução que defendem o aborto, sobre a justa alegação de evitar mais mortes, e o acesso de mulheres fragilizadas a "açougueiros de plantão", existe outra questão que é preciso considerar: no Brasil é costume que uma lei, só pegue quando dói no bolso e/ou não existe precedentes de absolvição, portanto, as mulheres além de estarem fragilizadas neste momento podem serem induzidas, por alguém ou por elas mesmas, a adotarem este método como contraceptivo de emergência. Empiricamente na Saúde pública, verificamos diversos casos de mulheres que tratavam a sua gestação como objeto de "barganha", assim como outras tantas que foram "jogadas" pelos "companheiros" que abusaram, com promessas de "mundos" mas qdo. veio a responsabilidade fugiram como ovelhas de fronte ao lobo.

Por fim, se estivessemos preparados para lidar com esta questão de maneira séria chegaríamos a ações mais concretas que permeiam a prevenção e promoção de saude e de direitos. Não podemos tratar um dano, que realmente é justa sua causa, mas também não podemos criar outro, será que conseguiremos acolher estas mulheres? quem fará isso? com o que temos, será que consiguremos atender esta demanda?