segunda-feira, junho 28, 2010

UMA REVOLUÇÃO, MUITAS HISTÓRIAS.

 
 
 
 
Já faz algum tempo que os historiadores perceberam as dificuldades do seu ofício, não apenas pelos obstáculos de acesso aos documentos, mas porque sua atividade não é neutra e nem o passado existe como coisa organizada e pronta, à espera de ser desvelado. O historiador produz o passado de que fala a partir das fontes documentais que seleciona e recorta, compõe uma trama dentre várias outras possíveis e constrói uma interpretação do acontecimento.
Sempre existe mais de uma linha de interpretação em História. Em outras palavras, um mesmo fato provoca muitas interpretações: entre historiadores, por diversas posições tomadas; e entre os próprios personagens históricos em luta. Apesar disso, a história tem uma lógica, tem normas, tem um processo; tem, portanto, uma objetividade, é uma ciência igual a outras disciplinas humanas, é uma ciência humana. Isso quer dizer que também tem uma relatividade, dependendo da visão do historiador. O fato histórico é um acontecimento com impacto coletivo na vida do presente e que deve ser explicado e interpretado pelos historiadores.
Há múltiplas histórias a serem contadas já que os grupos sociais, étnicos, sexuais, debaixo ou de cima, se constituem de maneiras diversas, mas têm diferentes modos de narrá-las. A História pode mostrar formas diferentes de pensar, de organizar a vida, de problematizar, vivenciadas por outras sociedades, em outros momentos históricos.
A Revolução Francesa foi descrita e interpretada por historiadores como Albert Soboul, Georges Lefebvre, Godechot, Georges Rude, Eric Hobsbawm, Michel Vovelle entre outros. A maiorida desses historiadores consideram a Revolução Francesa um MODELO CLÁSSICO  DE REVOLUÇÃO BURGUESA. Modelo, pois serviu de exemplo para outros movimentos revolucionários. Clássico porque resistiu a deterioração que normalmente atinge os acontecimentos históricos, mantendo e mesmo elevando seu valor com o passar dos anos. Suas palavras de ordem  (liberdade, igualdade, fraternidade) tencionavam assegurar princípios de respeito aos direitos de cada um, como bem supremo formador da nação, finalmente burguesa, pois apesar de nela terem coexistido três revoluções sociais distintas: uma burguesa, uma camponesa e uma popular urbana, a dos chamados sans-culottes, o poder político que se encontrava nas mãos da nobreza, passou para a burguesia. Isso significa que os resultados políticos das sucessivas convulsões sociais geradas nos quadros da crise do Estado Monárquico  francês foram, Ao final, capitaneados pela burguesia, que pôde assim dar início à viabilização de seus interesses políticos e econômicos.
Muitos desses historiadores optavam pelo marxismo, pois o próprio Karl Marx no Manifesto Comunista exaltou o caráter revolucionário da burguesia:

Historicamente, a burguesia desempenhou um papel dos mais revolucionários(...) Sempre que dominou, a burguesia exterminou todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Despedaçou impiedosamente os variados laços feudais que ligavam o homem a seus “superiores naturais”, e não deixou que restasse outra ligação entre os homens que apenas o auto-interesse, que o desumano “pagamento à vista

No final do século XX com o declínio do socialismo real e do marxismo vários historiadores como François Furet e Simon Schama reinterpretaram a Revolução Francesa: O Iluminismo não era revolucionário e nem era conhecido pelos franceses; Não havia uma oposição entre os interesses da burguesia e da nobreza; Não existia feudalismo nem existia burguesia na França; O governo de Luis XVI estava promovendo reformas que se não tivesses sido interrompidas pela revolução teriam modernizado o país; O governo jacobino nada teve de democrático e popular. Foi um período sangrento no qual a França esteve sob o comando de um grupo de radicais terroristas e megalomaníacos; A Revolução foi negativa provocando destruição econômica, violência política guerras; A Revolução não pode ter sido burguesa, porque o resultado foi um retrocesso econômico; A nobreza ainda que não tivesse os privilégios feudais, continuava a ser a grande proprietária de terras e influente na política.
Sendo assim, a Revolução Francesa é um fato histórico que já foi visto e interpretado por diferentes historiadores que produziram diferentes versões. Essas diferenças estão relacionadas à época em que esse conhecimento histórico foi produzido bem como às opções metodológicas e epistemológicas que esses historiadores fizeram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Al Salam Aleikum,
adorei o texto .
muitas saudades
"fonte inesgotável de luz e saber" rs lembra ?

um beijo khadyg fares