sábado, maio 01, 2010

Chicago, maio de 1886

Na maioria dos países industrializados, o 1º de maio é o Dia do Trabalho. Comemorada desde o final do século XIX, a data é uma homenagem aos oito líderes trabalhistas norte-americanos que morreram enforcados em Chicago (EUA), em 1886. Eles foram presos e julgados sumariamente por dirigirem manifestações que tiveram início justamente no dia 1º de maio daquele ano. No Brasil, a data é comemorada desde 1895 e virou feriado nacional em setembro de 1925 por um decreto do presidente Artur Bernardes.




Giuseppe Pellizza da Volpedo. - "O quarto poder'' (1901).
Encontra-se atualmente na Civica Galleria d'Arte Moderna em Milão.


Baixos salários e jornadas de trabalho que se estendiam até 17 horas diárias eram comuns nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX.

Férias, descanso semanal e aposentadoria não existiam. Para se protegerem em momentos difíceis, os trabalhadores inventavam vários tipos de organização – como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.

Com as primeiras organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações reivindicando maiores salários e redução da jornada de trabalho. Greves, nem sempre pacíficas, explodiam por todo o mundo industrializado. Chicago, um dos principais pólos industriais norte-americanos, também era um dos grandes centros sindicais. Duas importantes organizações lideravam os trabalhadores e dirigiam as manifestações em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho). As organizações, sindicatos e associações que surgiam eram formadas principalmente por trabalhadores de tendências políticas socialistas, anarquistas e social-democratas.


Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. Dia 1º de maio, os trabalhadores realizam uma grande manifestação – foi a última do período em que não houve violenta repressão policial. Nos dias seguintes, toda ação dos operários foi duramente reprimida pela polícia, com mortos, feridos e muitos presos. As conseqüências chocaram o mundo: depois de um julgamento sumário, várias lideranças foram condenados a prisão perpétua e oito deles, à morte na forca. Aos poucos, porém, vários Estados norte-americanos começaram a estabelecer jornadas de trabalho menores, de dez e até de oito horas.

A data vira uma instituição

No século XVII, o frade italiano Tommaso Campanela escreveu um livro chamado A Cidade do Sol em que os solares, habitantes dessa cidade, trabalhavam apenas quatro horas diárias. Por publicar tal idéia, o religioso foi torturado pelo tribunal da Inquisição e mantido preso durante 27 anos. Na Idade Média, os camponeses trabalhavam até 17 horas durante as estações quentes.
Dois anos depois, em 1888, a AFL marcava para o dia 1º de maio manifestações de protestos e reivindicações por uma jornada de trabalho de oito horas. Em 1890, o 1º de maio foi comemorado com manifestações em várias cidades européias e norte-americanas, organizadas por sindicatos, partidos e associações de trabalhadores. Nesse mesmo ano, a Segunda Internacional, associação mundial de trabalhadores socialistas, aprovou em seu congresso a fixação do 1º de maio como Dia do Trabalhador: "Festa dos trabalhadores em todos os países, durante a qual o proletariado deve manifestar os objetivos comuns de suas reivindicações, bem como a sua solidariedade", declarava o documento daquele congresso.

As comemorações no Brasil




 No Brasil, as comemorações do 1º de maio também estão relacionadas à luta pela redução da jornada de trabalho. A primeira celebração da data de que se tem registro ocorreu em Santos, em 1895, por iniciativa do Centro Socialista, entidade fundada em 1889 por militantes políticos como Silvério Fontes, Sóter Araújo e Carlos Escobar. A data foi consolidada como o Dia dos Trabalhadores em 1925, quando o presidente Artur Bernardes baixou um decreto instituindo o 1º de maio como feriado nacional. Desde então, comícios, pequenas passeatas, festas comemorativas, pic-nics, shows, desfiles e apresentações teatrais ocorrem por todo o país.

Getúlio Vargas e o trabalho





Com Getúlio Vargas – que governou o Brasil como chefe revolucionário e ditador por 15 anos e como presidente eleito por mais quatro – o 1º de maio ganhou status de "dia oficial" do trabalho. Era nessa data que o governante anunciava as principais leis e iniciativas que atendiam as reivindicações dos trabalhadores, como a instituição e, depois, o reajuste anual do salário mínimo ou a redução de jornada de trabalho para oito horas. Vargas criou o Ministério do Trabalho, promoveu uma política de atrelamento dos sindicatos ao Estado, regulamentou o trabalho da mulher e do menor, promulgou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), garantindo o direito a férias e aposentadoria.

A revitalização do protesto no ABC



Com a ditadura militar em 1964 e o AI-5 em 1968, os sindicatos e organizações de trabalhadores foram esvaziados com a prisão e perda dos direitos políticos de lideranças trabalhistas em todo o país. O movimento sindical começa a renascer na segunda metade dos anos 70, reivindicando aumento salarial e o fim das horas-extras. No 1º de maio de 1978, os metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, fizeram uma manifestação com mais de 3.000 pessoas. De 1978 a 1980, cerca de 2 milhões de trabalhadores pararam temporariamente suas atividades para exigir o aumento dos salários. No dia 1° de maio de 1980, por volta de 100 mil pessoas reuniram-se no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, manifestando apoio ao líder sindical Luís Inácio Lula da Silva e aos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade, presos durante uma greve.

Coincidências do 1º de maio

• Há 2.000 anos, os romanos realizavam no dia 1º de maio rituais para as deusas Flora e Maia, seres femininos relacionados às flores e aos cereais. As cerimônias anunciavam a chegada da primavera na Europa. Nem mesmo os escravos trabalhavam nesse dia.

• No dia 1º de maio de 1531, aprendizes de artesãos da cidade de Lucca (Itália) promoveram um protesto pela fixação de um salário mínimo e por uma jornada de trabalho reduzida.

• No século XIX, os Estados norte-americanos de Nova York e Pensilvânia celebravam o Moving Day em 1º de maio. Era o dia em que se comemorava os contratos de trabalho entre patrões e empregados.

• No dia 1º de maio de 1831, serradores de Bordeaux (França), revoltados com a mecanização do trabalho, destruíram as serras modernas e realizaram um quebra-quebra geral.



Você sabia?

Nos Estados Unidos, o dia do trabalho (Labor Day) é comemorado na primeira segunda-feira de setembro, e não em 1º de maio como na maioria dos países, em virtude de divergências entre os sindicatos corporativos e os socialistas na transição do século XIX para o XX?

Para saber mais

• 1890-1990 – Cem Vezes Primeiro de Maio, Departamento do Patrimônio Histórico de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, 1990.

• 1º de Maio – Cem Anos de Luta 1886-1986, José Luiz Del Rio, Editora Oboré, São Paulo, 1986.

• História das Lutas Sociais no Brasil, Edgard Carone, Editora Alfa-Ômega, 2 ed., São Paulo, 1977.

• História do Proletariado Brasileiro: 1857-1867, Editora Alfa-Ômega, São Paulo, 1982 .

• May Day Celebration, Caderno da Fundação Giacomo Brodolini, Veneza, Editora Marsílio, 1988.

• Quando Novos Personagens Entram em Cena – Experiências, Falas e Lutas dos Trabalhadores da Grande São Paulo – 1970-1980, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1989.

Bom feriado para todos!
Na segunda metade do século XVIII, os operários da fábrica Tyldesley, Manchester (Inglaterra), trabalhavam cerca de 14 horas por dia, suportando uma temperatura de 29ºC em um ambiente úmido com as janelas constantemente fechadas. A nenhum deles era dado o direito de tomar água para que não perdessem tempo de trabalho.

4 comentários:

Lais disse...

Olá profº,
encontrei uma lista de músicas "pops" sobre trabalho (estão na página do vagalume.com)
de repente vale a pena dar uma conferida- mas gosto mais de "fábrica" do Legião urbana.
=)

Lais disse...

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