domingo, abril 18, 2010

"Tu quoque, Tiradentes!

“Desvio de verbas públicas”, “nepotismo”, “corrupção passiva”, “sonegação de impostos”, “tráfico de influências”. O paciente leitor deve se perguntar: -Quem é a bola da vez? Sarney? Lula? Serra? O moribundo Maluf? Não! Eu tenho o deleite de informar que agora trata-se de personalidades históricas, que entre outras, envolve o nosso único herói nacional: Tiradentes!
O historiador André Figueiredo Rodrigues é o autor do recém lançado livro “A Fortuna dos Inconfidentes” (Globo), obra que após longa investigação, revê radicalmente alguns aspectos da Inconfidência Mineira, desconstruindo parte do discurso da história oficial. André teve acesso a uma infinidade de documentos e de processos judiciais da época. A grande novidade é que, através deles, descobre- se que a corrupção e a festa com o dinheiro público não é característica dos atuais dias republicanos. A Inconfidência foi uma reação do Brasil Colônia contra os impostos cobrados pela Coroa Portuguesa. Através da íntegra dos relatórios, a obra revela que boa parte dos bens que até hoje se atribuíam aos inconfidentes correspondia, na verdade, a uma ínfima parte de seu patrimônio real – ou seja, eles sonegavam o máximo que podiam. “Tudo o que era possível esconder, eles escondiam, inclusive Tiradentes um dos rebeldes dessa sublevação”, diz Rodrigues que aponta para uma das características marcantes dos inconfidentes: a mentira na divulgação do patrimônio e a consequente sonegação.
Outra grande descoberta! De acordo com o livro, Tiradentes (o mártir da Inconfidência) não vivia de seu modesto soldo militar como alferes – ele foi um homem influente e rico. Ganhou o direito de explorar 47 pontos de mineração na Mantiqueira, criava gado, possuía sítios, sesmarias e escravos. Atuava também como agiota, emprestando dinheiro a juros escorchantes. O livro defende a tese de que Tiradentes não queria reformas sociais e igualdade de direitos.
Conheci o professor André em 1993. Naquela ocasião, eu era um neófito professor de História e ele aluno de um curso pré vestibular. André graduou-se na FFLCH-USP, onde construiu uma carreira brilhante! É também autor de vários livros de Metodologia Científica e seu interesse pela Inconfidência já apareceu em seu trabalho de iniciação científica: O Clero e a conjuração mineira, publicado pela editora Humanitas - USP. Inútil  que André há tempos superou, em muito, o professor!
André é um ser de uma humanidade ímpar. Possui uma generosidade, uma cordialidade, uma compreensão solidária e um humor que o enobrecem. Há centenas e milhares de referências de seus ex-alunos que podem atestar isso que estou escrevendo. Considero-me um afortunado por desfrutar da sua companhia e amizade por tantos anos. Ele ajudou-me muito em todos os campos da vida profissional e pessoal.
Sinto que ele tem um faro especial para desmascarar farsantes! São bons anos de estreita amizade e colaboração mútua. Atualmente a amizade ganhou outros contornos nessa sociedade dos interesses quando das relações só se estabelecem quando retornam algum benefício tanto na política como nos negócios. Penso que isso não é amizade embora é assim que a chamam.
A amizade requer o tempo e esse a vincula a verdade. E isso eu e o André temos!
Como disse o jornalista da revista Isto É da qual extrái alguns excertos dessa postagem: "Como se vê, a partir da obra de Rodrigues, há muita gente no Brasil, sobretudo na classe política, que vive um eterno 21 de abril."
Bom feriado para todos!

Um comentário:

hideki disse...

Olá professor!
Nossa, nem o Tiradentes se safou desse mal?
Isso porque ele é o nosso "heroi"...
Será que o Brasil tem salvação?
Por isso que meus herois são os professores, que salvam nós alunos da mais profunda escuridão da ignorancia! rsrs
Abraços!