domingo, agosto 30, 2009

A violência como construção social

Marisa Fefferman explica a subjetividade no capitalismo que não aceita o diferente

Somos parte de uma construção histórica. Assim Marisa Fefferman, doutora em psicologia, pesquisadora do Instituto de Saúde e autora do livro Vidas Arriscadas, o cotidiano dos trabalhadores do tráfico, iniciou sua conversa com assistentes sociais em atividade promovida pelo Núcleo de Criança e Adolescente.

Marisa defendeu a desmistificação da perspectiva enganosa de responsabilidade individual. Ao invés disso, propõe a compreensão de como a sociedade capitalista gera e reproduz uma cultura de padronização e portanto de não aceitação do diferente, geradora de violência.

Nessa sociedade, a identificação com o outro desaparece para dar lugar a um ser sem força para pensar o mundo, resultado dos modelos identificatórios disseminados pela indústria cultural, que coloca como central a posse de bens. A reprodução do discurso hegemônico é quase obrigatória para o pertencimento, e o pensamento se submete às leis econômicas. “Essa é a construção da subjetividade no capitalismo. Todos carregam essas marcas. Vivemos em uma sociedade narcisista, do espetáculo que encara o outro como objeto”.

A sociedade não sabe como fazer a mediação política e entende a violência como resposta adequada, culpabilizando o excluído. Essa é uma sociedade que perde a legitimidade da legislação, alterada sempre para satisfazer a elite. Os direitos universais são para poucos, e ainda menos sob o neoliberalismo que atropelou o estado de bem-estar social. Por último, se perde a diferenciação entre o risco real e o provável, de forma que o medo assume características fóbicas.

Mas o que isso tem a ver com a realidade dos jovens, especialmente dos pobres? Tudo. “A juventude por sua característica manifesta desequilíbrios e descontentamentos de forma mais intensa”, avalia. E quando a realidade é de oportunidades escassas, crescer é uma empreitada a ser enfrentada sozinho e a discriminação é reforçada pela indústria cultural, a resposta não poderia ser outra.

Segundo ela, os traficantes são os bodes expiatórios, vendidos como os responsáveis por todo tipo de violência. “Mas o mais importante: incomodam porque mostram quem somos. Evidenciam a violência que os shoppings centers tentam esconder”. Os presentes debateram a relevância da fundamentação sócio-histórica para um trabalho que valorize a autonomia do sujeito

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