quinta-feira, maio 07, 2009

Sobre a ponte inexistente


Sobre a ponte inexistente

Pode-se visualizar bem o paradoxo no quadro de René Magritte, “A ponte de Heráclito”, pintado em 1935.

Na imagem, a ponte supostamente real como que se interrompe no ar, ao tocar na névoa, não conduzindo quem a atravesse, ou quem esteja admirando o quadro, a lugar algum.

O reflexo da ponte na água do rio, porém, mostra uma ponte completa, atravessando o rio.

Temos certeza da imagem da ponte, mas não temos qualquer certeza da ponte ela mesma.

Temos certeza do reflexo, do sintoma, da conseqüência, mas não podemos ter qualquer certeza da coisa que provoca o reflexo, da doença que gera o sintoma, da causa que produz a conseqüência.

Como se trata da ponte de Heráclito, segundo o título que lhe deu o pintor, podemos ainda dizer que essa ponte incerta atravessa o rio que nos banhamos e no qual nunca somos os mesmos que fomos no primeiro banho, assim como o rio nunca é mais o mesmo, ou seja: trata-se de um rio que a rigor não existe, atravessado por uma ponte que a rigor também não existe, pintado por um pintor que a rigor não existiu e observado por espectadores que, a rigor e igualmente, não existem.

Em palavras diretas: a rigor, não existimos.

Um comentário:

Dani Martins disse...

Isso me lembra:

"Nunca dês um nome a um rio,
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai começar!"

Mario Quintana